“Brincar é bom pra brincar. O desenvolvimento é consequência!”. Brincar sempre fez parte da minha vida, tive uma infância “brincante”, mas quando ouvi essa frase da Patrícia Marinho do Tempo Junto o brincar fez mais sentido.
Brinquei muito de esconde-esconde, de elefantinho colorido, de fazer comidinha com grãos de feijão que minha mãe dava enquanto fazia o almoço, de ser professora dos meus ursinhos de pelúcia, de jogar bexiga d’água, de queimada. São tantas as brincadeiras que marcaram a minha vida e me dei conta de que nelas eu aprendi muita coisa, fui estimulada naturalmente, me desenvolvi, sem que minha mãe fosse bombardeada por um monte de informação como nós somos atualmente. Às vezes não parece que tudo na maternidade tem um jeito certo? Já me vi nesse dilema muitas vezes e com o tempo percebi que não é bem assim não.
Não acredito, por exemplo, que exista um jeito certo de brincar e cada vez mais tenho certeza de que nem sempre é necessário usar brinquedos para se divertir com seu filho ou sua filha. Não sou totalmente contra o uso de eletrônicos, acho que podem sim fazer parte da infância de uma forma saudável, mas já reparou como materiais recicláveis podem se transformar e proporcionar brincadeiras incríveis sem você precisar gastar um centavo? Aqui em casa, palitos de sorvete, tampas, fundo de garrafa pet, recortes de papel colorido, embalagens de lenço umedecido ganham vida e sempre tento fazer Antônio participar desse processo de transformação.
E quem nunca viu um bebê se interessar mais pela caixa do presente do que pelo que tinha dentro dela? Ou ainda abrir um sorriso enorme por ter achado um galão de água vazio na cozinha ou uma bacia na área de serviço pra entrar e sair dela diversas vezes. (fatos MUITO reais por aqui!). Pra mim, isso é brincar!
Dia desses, Antônio parecia ter encontrado ouro quando dei na mão dele um estojo com uma escova e duas pastas de dente, um enxaguante bucal e uma caixinha amassada. Ele se interessou tanto que comecei a contar uma história, fingindo que os itens do estojo na verdade eram personagens. Ele amou e no dia seguinte não só lembrou sozinho da brincadeira como pediu pra fazer de novo, do jeito dele.
A pandemia exigiu de nós estar praticamente 100% do tempo com os nossos filhos e muitas vezes trancados em casa, sem poder levar num parque, numa viagem, na casa dos primos, e isso me fez pensar que não posso deixar de brincar com meu filho. Não posso deixar que ele não tenha as mesmas lembranças afetivas da fase de inúmeras brincadeiras como eu tive, ainda que isso aconteça dentro de um apartamento de poucos metros quadrados. E não quero que as lembranças dele sejam de que passava horas com um celular na mão vendo Galinha Pintadinha ou assistindo Patrulha Canina na televisão, por mais que eu goste de desenhos e permita que eles façam parte da nossa rotina.
Quantas vezes me vi nos últimos meses jogando bola ou brincando de pega-pega no corredor com Antônio, soltando bolinha de sabão na nossa micro varanda e vendo nele uma alegria independente do espaço que tínhamos para brincar.
Em 2018, a Academia Americana de Pediatria orientou formalmente os profissionais a receitarem brincadeiras diárias a todas as crianças. O documento dizia “estimulem o aprendizado lúdico em todas as consultas com crianças em boas condições de saúde nos dois primeiros anos de vida”. E sabem como? Com as brincadeiras livres, aquilo que eu e você fizemos na infância, que era simplesmente brincar! Brincar com o que tivesse, com quem estivesse, sem se preocupar com absolutamente mais nada.
Brincar é se colocar disponível, é inventar, criar, mexer o corpo, é não ter começo, meio e fim, é esquecer o mundo por alguns minutos e viajar numa aventura que só traz alegria! Se o brincar vai estimular a criatividade, a coordenação motora, a percepção das cores, o raciocínio, a ampliação do vocabulário, isso realmente precisa ser consequência, e não o objetivo. Pergunte para sua filha ou filho: do que você quer brincar agora? Dê a eles a oportunidade de escolher.
Estamos na Semana Mundial do Brincar e o tema deste ano é “casinhas da infância”. Tem coisa mais a cara da infância do que brincar de casinha? E pensando como adultos: tem brincadeira que ensine mais do que a casa, onde cuidamos do outro e fazemos tantas atividades que exigem tantas habilidades o tempo todo?
Deixa a criança brincar! E se a vida não for uma grande brincadeira, que a gente cai, rala o joelho, chora, mas depois de alguns minutos já está sorrindo de novo pra recomeçar, é bom a gente aprender mais com nossos filhos!
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